04 abril, 2012


O papel dos carboidratos no desempenho físico
Por Michelle De Simone


A  posição das renomadas instituições American Dietetic Association, Dietitians of Canada e American College of Sport Medicine é,  que a atividade física, performance atlética e a recuperação do exercício é alcançada com uma nutrição adequada.

Estas organizações recomendam uma seleção apropriada de alimentos, líquidos,  intervalos de refeições e critérios adequados quanto à utilização de suplementos para se alcançar uma boa saúde e boa performance no exercício.

Durante os exercícios, as  necessidades  de energia e macronutrientes - especialmente carboidratos e proteínas - precisam ser consumidos na proporção adequada para manter o peso corporal e os estoques de glicogênio muscular, assim como proporcionar quantidade suficiente de proteína para a manutenção e reparação tecidual.

Quando se fala em dieta o carboidrato é sempre taxado como vilão da história. Seu papel principal no organismo é fornecer energia e atualmente novas dietas têm como proposta a diminuição e até a exclusão total deste nutriente.

Muitos esportistas, com receio de ganhar gordura corporal adotam este método com o intuito de emagrecimento e comprometem o desempenho.  O carboidrato não deve ser excluído da dieta, mas também não deve ser  consumido em abundância. Deve haver um equilíbrio em sua ingestão. Quando ingerido, ele se transforma em açúcar, e se esta energia não for gasta pelo organismo, pode ser um “excesso” a mais e o ganho de peso é inevitável.

Os carboidratos podem ser definidos como o combustível vital para o desempenho esportivo. Durante o exercício, o glicogênio muscular é a principal fonte de energia para os músculos. Já o glicogênio hepático é transformado novamente em glicose e transportado para o sangue, como suprimento extra para os músculos e para o sistema nervoso central.

Quando todo o glicogênio é depletado, o organismo utiliza outros nutrientes como fonte de energia, principalmente das proteínas. Com isso há uma degradação de proteínas muscular, o que pode levar a uma fadiga precoce e uma queda no desempenho esportivo.

A quantidade de glicogênio disponível no organismo depende da ingestão de carboidratos na dieta habitual. Quanto maior a porcentagem de carboidratos na dieta, maior será a quantidade de glicogênio. A quantidade de glicogênio muscular está relacionada com o mecanismo de fadiga: quanto mais glicogênio, mais energia e maior a capacidade de um indivíduo permanecer em atividade.

Por isso, os atletas apresentam maior necessidade de carboidratos. A recomendação é de 60 a 70% das calorias ingeridas ao longo do dia.  Fazem parte deste grupo os cereais (arroz, trigo, milho, aveia, etc), tubérculos (batatas, mandioca, mandioquinha, etc), açúcares (mel, frutose, etc), massas,  pães e barras de cereais.

Há 2 tipos de carboidratos, os simples - que são transformados rapidamente em glicose, aumentando os níveis de açúcar no sangue - e os  complexos (integrais) - que são absorvidos lentamente pelo organismo, mantendo a taxa de açúcar mais estável.

Carboidratos integrais...

O alimento integral é aquele que não passa por nenhum processo de refinamento e assim, preserva o gérmen, o farelo e endosperma. Diferente dos cereais refinados (arroz branco, farinha branca, entre outros) que perdem suas camadas ricas em nutrientes e fibras, preservando apenas o endosperma que é formado pela maior parte de amido.

Os integrais são fontes de vitaminas, especialmente E e do complexo B e alguns minerais importantes, como zinco, magnésio, manganês, cromo, selênio e molibdênio.

O carboidrato integral pode trazer vantagens nos lanches que antecedem os treinos. Por ter um baixo índice glicêmico, evita a hipoglicemia de rebote – sintoma percebido por alguns esportistas que consomem carboidratos de rápida absorção em momentos antes do treino e conseqüentemente liberam quantidade elevada de insulina. Além disso, proporciona manutenção da glicemia ao longo do dia do esportista.

Autores compararam as respostas bioquímicas e fisiológicas de ciclistas treinados que ingeriram a mesma porção de alimentos de alto índice glicêmico e de baixo índice glicêmico. A alimentação com baixo índice glicêmico produziu o menor nível de glicose e insulina, em 30 a 60 minutos após a ingestão, maior nível de ácidos graxos livres, menor oxidação de carboidratos durante o exercício e maior tempo até exaustão (9 a 20 minutos) do que indivíduos que ingeriram a refeição de alto índice glicêmico.

O grão integral proporciona manutenção de uma glicemia estável ao longo do dia do esportista. No entanto, nos 5 minutos que antecedem o exercício, é aconselhável alimentos mais líquidos e de rápida absorção, que permitem a manutenção da glicemia por um período mais longo durante o exercício de intensidade moderada até a exaustão.

As atuais recomendações sugerem o consumo de 6 porções diárias de carboidratos, sendo que no mínimo, 3 devem ser de carboidratos integrais.

 
Carboidratos integrais:
-          Pães e torradas integrais
-          Aveia
-          Cevada
-          Milho
-          Centeio
-          Arroz integral
-          Painço
-          Trigo
-          Amaranto
-          Arroz integral
-          Barrinhas integrais
-          Granola
-          Linhaça
-          Quinoa


O carboidrato deve estar presente em todas as refeições ao longo do dia. Controlar a quantidade ingerida e escolher o tipo de carboidrato – preferência os integrais – é a estratégia correta para manter uma alimentação balanceada e melhorar o desempenho esportivo.    

Referências Bibliográficas

BACURAU, R. F. Nutrição e suplementação esportiva. Guarulhos, SP: Phorte Editora, p. 67-69, 2000.

BRASIL. Ministério da saúde. Secretaria de atenção à saúde. Coordenação-geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. Brasília, 2005.

COSTILL, D. L. Carbohydrates for exercise: dietary demands for optimal performance. Int. J. Sports Med., 9, 1, 1988.

MAC-MILLAN N. Utilidad del indice glicemico en nutrición desportiva. Rev Chil Nutr, 2002; 29(2).

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THOMAS, D. E.; BROTHERHOOD, J. R.; BRAND, J. C. Carbohydrate feeding before exercise: effect of glycemic index. Int. J. Sports Med., 12, 180, 1991.

WHO Technical Report Series 916. Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases. WHO, Geneva 2003.